Sao cerca de 23 horas de viagem ou seja, mesmo para os padroes Sul Americanos é uma viagem longa, cerca de 2000km. Chegado ao terminal rodoviário com uns seguros 30 minutos de antecedência, dirigo-me ao café e compro uma "empanada" e uma garrafa de água. Lá como o dito alimento necessário a tao longa jornada e entrego a minha mochila ao bagageiro que prontamente me entrega um comprovante de bagagem.
Subo ao 2ºpiso do autocarro e aterro no lugar que me está destinado. Para variar, escolhi um lugar junto à janela mas para grande infelicidade minha, esta revelou-se uma má escolha. A verdade é que as cadeiras desta companhia sao mais estreitas que o normal e a distância entre as filas mais curta. Além disso, o que deveria ser janela é afinal uma barra que atravessa diagonalmente o vidro.
Por essas razoes, assim que chega o passageiro do lado e assim que o da frente decide inclinar a cadeira para dormir, sinto-me como um contorcionista tentando escolher a melhor forma para caber numa caixa pequena.
O autocarro arranca pelas 19h00 e passo os primeiros momentos a bordo apreciando a paisagem enquanto navego pelo mar dos meus pensamentos. É o pôr do Sol e vou pensando nas pessoas que estao em casa, na famíla, nos amigos, neste e naquele pedaço do meu ser que ficou pela terra de Camoes. Da mesma forma, faço uma retrospectiva do que foi feito nesta viagem, do que aprendi e o que falta fazer e aprender... Muitas coisas!
Luzes apagadas. Agora é tempo de cinema. Coloco os headphones e dou início a uma maratona cinematográfica que me ocupa o tempo ao longo de 3 horas. Findas as 3 horas, paramos pela primeira vez e o passageiro que está ao meu lado sai e dá lugar a outro muito mais modesto na ocupaçao de espaço. Pode ser que consiga dormir.
Contudo, travo uma acesa batalha contra o desconforto, tudo em prol de uma razoável noite de sono:
Braço direito para cima, esquerdo para baixo e pernas esticadas. Nao, assim nao dá! Braços cruzados sobre o peito e perna direita apoiada no banco da frente. Por momentos parece ser a posiçao certa mas ao fim de 15 minutos a perna fica dormente. Ok, mais uma tentativa. Braços estendidos, perna esquerda dobrada e cabeça inclinada, nao! Também nao dá!
E assim passei 2 horas, batalhando, controcendo-me e praguejando até que, resignado, saco do meu Mp3 e lá vou escutando as mesmas músicas de sempre (1gb de memória) até ao momento em que se dá nova paragem e, milagre! As cadeiras à minha frente ficam vagas!
Como um caozinho contente saio do meu desconforto espartano e atiro-me para os melhores lugares do autocarro, a fila da frente. Aqui podemos observar como o condutor, qual maestro dirigindo uma orquestra nos conduz através de paisagens inóspitas que adornam o caminho. Finalmente adormeço.
Acordo passadas 3h com o sentar pesado do novo passageiro do lado. Mas ora francamente! Era preciso acordar-me com essa violência toda? Viro-me para o lado, amaldiço-o por dentro e levo mais uma hora de sono leve até que acordo com fome de pequeno almoço e queixando-me da típica enxaqueca proveniente de longas horas enfiado num charuto rolante. Mesmo assim, tento dormir mais um pouco - pode ser que o tempo passe mais rápido - mas a hora foi sobretudo gasta com bruscas mudanças de posiçao que me impedem de concentrar no sono... Desisto, um cafézinho calhava mesmo bem agora!
Se assim pensei assim o fiz, na paragem seguinte toca de comprar esse néctar dos Deuses que rivitaliza o viajante cansado. E dada a situaçao, nem me queixei quando o café espresso que tanto sonhara era na realidade um balde de água suja vindo duma máquina Néscafé. Fora do autocarro, respiro o ar puro enquanto vou bebericando o café. Findos os minutos de paragem volto a respirar o ar de conserva no autocarro e passo o resto da viagem a apreciar a paisagem, escrever e a ver filmes.
Passadas 23h30 desde a partida no dia anterior eis que chego ao meu destino! Cansado, faminto, facilmente irritado, com corpo e mente dormentes de tao longa jornada, procuro pelo hostel enquanto me vou arrastando preguiçosamente pelas ruas da vila.
Chegado à minha nova casa, faço o ritual do mochileiro após viagem longa: checkin, comprar comida, tomar banho e comer (neste caso jantar).
Findo o ritual dou-me a conhecer aos restantes hóspedes e trocamos uma impressao ou outra acerca das nossas viagens.
Tenho tempo ainda para ler e escrever, saboroso lazer que me ocupa a mente antes de me ir deitar, coisa que faço após uma hora bem passada....
Subo para a cama e adormeço quase instantaneamente. Amanha nao viajo, amanha é tempo de conhecer!
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
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Hehe Francisco!
ResponderEliminarSuas descrições dos "ônibus" sempre são as melhores!!
Eu também odeio quando a pessoa da frente reclina a cadeira, eu que sou pequena já sofro, imagina você!
Aproveita sua viagem!
E vê se entra no msn para conversarmos quando vc puder.
Bjinhos
Thais
Rico filho do meu coração!
ResponderEliminarAh! Ah! Ah! Não fiques já com a "penugem" toda eriçada tal cacto venenoso!
Já tenho saudades de sem pré aviso, conseguir pregar-te umas boas e sonoras beijocas no teu pescocinho!!!!!
Até já tenho saudades, de ver a cama por fazer com pelo menos 4 pares de meias ao fundo, dos livros, cabos e cabinhos, headphones grandes, médios e pequenos, copos de yogurt e roupa ...muita roupa --- tudo espalhado por tudo quanto é sitio. Para já não falar nas inundações da casa de banho!
Já tenho saudades de abrir o frigorifico e verificar que o almoço que tinha destinado continua lá ... não sumiu numa ceia tardia!Agora também só há 1 caixa de Weetabix aberta! Sinto a falta das 4 e 5 todas abertas ao mesmo tempo!
Mas, pensando melhor, afinal de contas, não sinto saudades (assim tantas)pois vejo que estás bem e principalmente com um ar "feliz cansado"!!!!
Fartámo-nos de rir com a descrição da viagem no tal autocaro para "anões". Para mim o pior seria o cheiro a gente ... aquele cheiro quente ... pesado! Puxa 24 horas é mesmo muita hora. Havia WC?
A Avó Teresa, é uma devota do teu blog e, com ela e o Google Earth temos feito grandes viagens sempre acompanhadas de grandes ÁHS de espanto e admiração. O Atlas e a Enciclopédia estão agora sempre à mão, tipo Biblia. Manda milhões de beijos e diz sempre que "ele é formidável" --- o MÁIÒR!
Beijo grande
Descrição admirável de uma viagem de "bus", seria o meu comentário. Acontece que a descrição faz lembrar algo que li há muito tempo sobre uma viagem de diligência. Em todo o caso, nesta, a viagem era de dias e metia paregens em pensões.
ResponderEliminarPosto isto, recomendo.te, se ainda não o fizeste, que anotes as tuas impressões no teu caderno. Dá um livro.
Por último e para não chatear mais, falta "côr" local. Como são as pessoas. Os chilenso, os bolivianos.
Um abraço
Tu???Sem conseguir dormir??Normalmente és o primeiro a conseguir adormecer de imediato e a meter inveja aos restantes com a carinha de mimado bem adormecido...
ResponderEliminarQuantas vezes não tive insomnias em tua casa e ficava a ler em tormentosa vigília até às tantas para ainda ter que ouvir de tempos a tempos,como uma batuta a marcar o passar angustiante das horas, a tua irritação, com a minha luz ligada, manifestada através dos teus típicos estalidos de lingua que se repetem até teres exprimido cabalmente e com uma precisão minuciosa o nível de incómodo causado pela situação inaceitável!
É BEM FEITA para veres o que custa a insomnia de que padecemos todos nós, os leigos da soneca, em maior grau do que tu, supremo sacerdote das técnicas de descanso!
Este post está optimo, estive aqui a ler com gozo o teu sofrimento..LOLLLLAO(eu ia pôr ehehehe mas sei que gostas mais assim)..Realmente 24h é uma brutalidade.
Concordo com o teu Pai, devias pôr um pouco mais de côr, "desde que seja com empenho! ok?".
"Sin embargo" até agora este foi o post que preferi.
Olha que por mais irritante que seja a tua cara quando dormes, tambem és "um pedaço do nosso ser"...e como já estou a resvalar perigosamente para a pieguice o melhor é calar-me depressa.
Um grande abraço com saudades do teu amigo, primo e Monsenhor,
Diogo Ramalho
Excelente post. E como chego atrasado, acrescento que quase tão bom como o dito, estão também os comentários! É mesmo divertido ler os posts e de seguida os comentários. Há aqui verdadeiras obras de arte!
ResponderEliminarBem, só tenho a acrescentar que li estes últimos dois posts quando estava em casa dos tios Xavier, em Lamas, Macedo de Cavaleiros. Não é ridículo?! Que raio de tecnologias são estas? E quando me telefonaste do Estreito de Magalhães? Imagina o jeito que tinha dado a D. Manuel ou D. João II que houvessem telemóveis na altura:
" 'Tou, Manel, daqui é o Vasco, olha, sempre dá pra passar o Cabo das Tormentas p'ra ir até à Índia. Já estamos a caminho e com este ventinho devemos fazer uma boa média. "
" Ok, Vasco, porreiro pá! "
Realmente, não há nada como realmente...Estes pedaços de plastico e com ferrinhos no interior(telemoveis) são absurdos...Não fazem sentido nenhum...
ResponderEliminara tua avó tem razao! és o máior! vai contando mais q a malta gosta de saber e rir com essas historias e faltas de sono, misturadas com viagens inacreditaveis! beijolas txikyyy
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