Vindo de uma viagem de 45 horas e 3 dias, directamente do escaldante Mato Grosso no Brasil, fluía em mim a necessidade urgente de conhecer La Paz. As viagens de longo curso funcionam como um acumulador de energia de tanto tempo parados, so nos apetece explodir! Toda essa energia foi despendida em La Paz durante 2 dias.
Sede de governo Boliviano, esta nao e uma tipica capital Sul Americana dado que carece das óbvias atracçoes comuns entre as restantes capitais. A pobreza reflecte-se em muitos aspectos da cidade, desde os prédios degradados ao comportamento do trânsito na cidade. Bancadas de vendedoras, espalhadas por quase todas as ruas da cidade vao vendendo produtos similares, senao mesmo iguais. A concorrencia aqui é perfeita e os preços ridiculamente baixos sao a prova disso como aliás, na maior parte da Bolívia.
Eu e o recém chegado Dario (Italiano que conheci em Marselha) Passamos o dia batalhando frenéticamente contra o caos da cidade. Saltitando de rua em rua enquanto me esforço por nao respirar a imensa quantidade de gases que paira sobre a cidade, chego ao pólo cultural e turístico da cidade, junto à praca de S.Francisco. Aqui a cidade parece um pouco mais cuidada, muito por culpa das massas turísticas que aqui afluem.
- I need to buy something dude, a backpack, mine is totally destroyed, it only costed 5€ in Buenos Aires... - Digo eu
Damos início a nossa demanda pela tao essencial mochila de mao, boa desculpa para visitar o bairro! Depois de uns quantos infrutíferos regateios lá compro uma Jansport por 30€, uma boa compra penso eu. Passam pouco mais de 40 minutos nesta operaçao e eis que passamos em frente a uma das muitas lojas de instrumentos musicais semeadas pelo bairro - Estou e precisar de uma companheira, uma que me de música - penso eu.
Entro na acanhada loja e enquanto Dario vai exprimentando os charangos e os tambores eu experimento as guitarras até ao momento em que os meus dedos tocam uma de preco económico. É esta!!! Som redondo, agudos claros e bem bonita... Já está!
E lá continuamos, provamos folhas de coca, estranhamos os Lamas secos encolhidos e rimos sempre que uma carrinha passa por nós enquanto um vendedor no seu interior guincha o seu destino.
É cedo mas estou cansado. Amanha é dia de ciclismo, há que estar preparado!
A primeira vez que vi imagens da "estrada da morte" até Coroico foi através dum mail que o meu Pai me mandou uns anos atrás. Perplexo, vi as imagens da dita estrada enquanto ainda nao existia uma alternativa mais segura. É estreita, rápida, construida sobre precipícios de 400m de altura, sem segurança alguma. Se for vontade do condutor é muito, muito perigosa. Mesmo assim, desde que a nova estrada esta construida o numero de mortes por ano está limitado a umas 2 ou 3 pessoas.
Quando me apercebi que era possivel percorre-la de bicicleta, a minha reacçao foi: "Já foste! Estou la batido de certeza!" Apesar do crescente carácter turístico desta estrada, como aficcionado nao podia deixar passar ao lado esta oportunidade.
E lá vamos nos! Um início em alcatrao deixou muito a desejar mas mal chegamos a zona perigosa, estreita e em terra batida, comeca a diversao! Farto das continuas travagens, decido ultrapassar todos até a posicao número um do pelotao. Esquerda, direita, uma derrapagem num gancho perigoso (onde morreu um ingles no ano passado) e la estou eu a frente! Assim a descida tem mais piada.
É tempo de almoço. comemos umas sandwitches, bebemos umas coca-colinhas bem fresquinhas e continuamos, agora numa zona menos propicia a acidentes de consequencias graves. Furo um pneu! Chatice! troco de bicicleta com o guia e lá continuo a ultrapassar o pelotao, agora com uma bicicleta sem suspensao traseira mas na minha opiniao, bem melhor, isto apesar de ter rebentado com o travao da frente logo no início.
Chegamos finalmente a Coroico, cansados e ansiosos pela bela piscina que nos esperava. Espectáculo!
Depois de carregar energias no Hotel, voltamos para La Paz de carro enquanto escutamos as muitas historias da estrada da morte que o nosso guia Marcelo tem para contar. Histórias essas que nao duram muito tempo pois passadas 3 paragens e 3 garrafas de Cuba libre, tanto o guia como metade da carrinha estao bebedos. Vamos cantando cançoes dos Beatles, Oasis, Gipsy Kings.... As 3 horas passaram rápido. Chegamos finalmente a La paz. O dia termina após um salto ao bar do nosso hostel...